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Ventura e Chega/Açores em desacordo. Partido só admite ser Governo, líder diz que "não é decisivo"

09 fev, 2024 - 18:52 • Diogo Camilo e Lusa

Chega/Açores defende que só viabilizará o Programa do Governo se integrar o executivo e se CDS e PPM ficarem de fora. Horas antes, Ventura disse que "ser parte ou não ser parte do Governo era decisivo", indo contra o que disse na noite eleitoral.

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Na noite eleitoral dos Açores, a 4 de fevereiro, o líder do Chega, André Ventura, garantiu que o partido não faria qualquer acordo de incidência parlamentar na região autónoma, mas apenas de Governo.

Esta tarde, Ventura voltou atrás, mudou de posição, e face ao anúncio do PS/Açores em votar contra o Programa do Governo da coligação PSD/CDS-PP/PPM, que venceu as eleições regionais de domingo sem maioria absoluta, disse que "ser parte ou não ser parte do Governo não é decisivo".

"Na noite eleitoral, José Manuel Bolieiro tinha duas hipóteses: uma convergência à direita, que permitia uma maioria absoluta, ou uma convergência com o PS. Piscou o olho ao PS e a resposta foi-lhe dada esta sexta-feira. E o PSD devia aprender com isso, porque o que aconteceu nos Açores pode acontecer a nível nacional. Nunca disse que a questão de ser parte ou não ser parte do Governo era o decisivo. Para mim, o decisivo é haver um acordo de Governo, em que os dois partidos definem áreas prioritárias de intervenção e as medidas a executar", disse esta sexta-feira André Ventura.

Horas depois, em conferência de imprensa, o presidente do Chega/Açores garantiu que o partido só viabilizará o Programa do Governo se integrar o executivo e se ficarem de fora os líderes açorianos dos dois partidos minoritários.

“A condição que impomos [para votar a favor do Programa do Governo], a primeira de todas, é fazermos parte do Governo. Tão simples quanto isso”, disse José Pacheco aos jornalistas em conferência de imprensa, em Ponta Delgada.

Além disso, acrescentou José Pacheco, para o Chega votar a favor do Programa do Governo, os líderes locais do CDS-PP e PPM, Artur Lima e Paulo Estêvão, respetivamente, não podem integrar o novo executivo liderado pelo social-democrata José Manuel Bolieiro.

“Esses dois hão de conversar com o sócio maioritário, que a mim não me diz respeito e eles é que hão de acertar entre si. Eu, do outro lado, que também estou a negociar isso, não vejo com bons olhos a permanência desses senhores no Governo, porque a última experiência foi má demais”, declarou.

O presidente do Chega/Açores disse ainda que até ao momento não recebeu nenhum telefonema de José Manuel Bolieiro, mas admitiu tomar a iniciativa: “Admito, porque até é um bocadinho do meu feitio, quando alguém não me dá uma resposta, dizer ‘afinal tu o que queres?’”, salientou.

“É assim que eu trabalho, é assim que eu falo com as pessoas, porque eu tenho muito respeito por esta terra e por estas pessoas e, quando alguém se mantém em silêncio e não quer dizer nada, está a fechar-se em copas e a fazer o jogo lá [no continente] do [Luís] Montenegro [líder do PSD], se calhar vou ter que lhe telefonar e dizer ‘ou nós resolvemos isto, ou os Açores é que vão penar’”, acrescentou.

Ainda de acordo com José Pacheco, quando for recebido pelo representante da República, Pedro Catarino, que irá ouvir os partidos nos dias 19 e 20 de fevereiro, irá dizer que o Chega está disponível “para a governação, para levar os Açores em frente”.

Numa entrevista ao Público divulgada esta sexta-feira, André Ventura descartava o mesmo cenário que viabilizou esta tarde.

“Eu tenho uma opinião sobre os Açores que eu já partilhei aos dois [coligação e líder do Chega-Açores]. Acho que o Chega não deve repetir acordos de incidência parlamentar. Acho que é mau. [O anterior acordo] foi mau para o Chega, foi mau para o PSD, foi mau para a democracia. Mas, sobretudo, nós sentimo-nos enganados. É esta a expressão e acho que não estou usurpar poderes do Chega-Açores. Eu sinto-me enganado, o Chega-Açores sentiu-se enganado”, afirma André Ventura.

Em conferência de imprensa esta sexta-feira de manhã, o presidente do PS/Açores, Vasco Cordeiro, anunciou que o partido vai votar contra o Programa do Governo da coligação liderada pelos sociais-democratas, considerando que "há política nacional a mais e Açores a menos na gestão que a coligação PSD/CDS-PP/PPM e Chega estão a fazer da situação resultante das eleições de 04 de fevereiro”.

Também por isso, acrescentou, “há a necessidade de tornar clara a posição política que o PS/Açores assume face ao Programa do XIV Governo Regional, porque fazê-lo já é um sinal claro de respeito pela autonomia dos Açores, mas, não menos importante, a reafirmação evidente da autonomia de decisão do PS/Açores".

A decisão foi tomada por unanimidade na reunião do Secretariado Regional e na reunião da Comissão Regional do PS, órgão máximo entre congressos, realizadas na quinta-feira, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Nas eleições regionais de domingo, PSD/CDS-PP/PPM elegeram 26 deputados, ficando a três da maioria absoluta.

José Manuel Bolieiro, líder da coligação de direita, no poder no arquipélago desde 2020, disse que irá governar com uma maioria relativa nos próximos quatro anos.

O PS é a segunda força no arquipélago, com 23 mandatos, seguido pelo Chega, com cinco mandatos. BE, IL e PAN elegeram um deputado regional cada, completando os 57 eleitos.

[artigo atualizado às 19h35 com as declarações de André Ventura]

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