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Nasceram na era das tecnologias de informação, são mais práticos e mobilizam-se por causas. Até dispensam o carro e a casa, também porque não têm grandes salários para pagá-los, mas arriscam ter o seu próprio negócio. Como podemos ajudá-los? Quais os medos que enfrentam? Que tal começarmos por ouvi-los? "Geração Z" é um podcast quinzenal, publicado à quarta-feira, às 18h, da autoria do jornalista Alexandre Abrantes Neves. Esta é uma parceria Renascença/Euranet Plus.
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​Erasmus: "Ai, filha, não arranjes para lá um alemão!"

Geração Z

​Erasmus. "Ai, filha, não arranjes para lá um alemão!"

27 set, 2023 • Beatriz Lopes , com João Campelo (sonorização)


No podcast Geração Z desta semana, Inês Espada Vieira e Pedro Dimas contam as suas experiências no Erasmus, um programa de intercâmbio financiado pela União Europeia, que em 36 anos proporcionou novas experiências educativas e culturais a milhares de estudantes.

Antes de partir para Hamburgo, na Alemanha, para fazer Erasmus, em 1995, a mãe de Inês Espada Vieira fez-lhe um pedido: “Ai, filha, não arranjes para lá um alemão!”. Inês diz que foi “uma boa filha” e levou o conselho "a sério".

Não só cumpriu, apaixonando-se por um espanhol, Javier, com quem já tem três filhos, como hoje, aos 47 anos, enquanto professora da Universidade Católica, incentiva todos os alunos a aventurarem-se, "mesmo que a experiência não seja tão romântica ou fértil" [risos]: "Sou uma entusiasta do programa Erasmus”, admite.

Para Pedro Dimas, de 22 anos, a experiência em Florença não teve nada de romântica nem fértil - foi um desafio constante. "O desconhecimento total da burocracia por parte da universidade" e a falta de respostas do lado italiano levou-o a ficar um mês sem aulas e sem conseguir a atribuição do "codice fiscale" (número de contribuinte) necessário para alugar casa. Festas em discotecas houve muitas, mas nunca foi a nenhuma. "Gostaria de ter feito algo mais cultural, como visitar San Gimignano, que tem dos melhores gelados do mundo", critica. Valeu-lhe o "desenvencilhar" e "as aulas todas em italiano", língua com que ainda hoje fecha negócios em Portugal.

No Geração Z desta semana, falamos sobre as vantagens, mas também dos contratempos que pode trazer o Erasmus - o programa financiado pela União Europeia que já leva 36 anos de existência e permite aos jovens estudarem em países da UE e também na República da Macedónia do Norte, Islândia, Liechtenstein, Noruega, Sérvia e Turquia, durante um período que pode estender-se até um ano. De acordo com a Comissão Europeia, no top três dos destinos preferidos dos portugueses estão Espanha, Polónia e Itália.

Inês Espada Vieira recorre precisamente ao exemplo da Polónia para lamentar que os jovens não aproveitem a experiência para "conhecerem outra cultura e aprenderem outra língua".

“Acho que um dos valores mais importantes do programa Erasmus está a perder-se um bocadinho. A Polónia é um dos grandes destinos dos estudantes portugueses, mas eles não aprendem polaco, será uma minoria e eu sinto alguma pena nesse aspeto. Quando estava em Hamburgo, na nossa residência, com gente de todas nacionalidades, o alemão era a língua franca, falámos muito pouco inglês”, refere.

E não ficou por aqui. Inês aproveitou também para aprender romeno e hebraico bíblico, mas "isso é só uma história para nos rirmos", recorda. Da "Europahaus" - onde viveu um "ano maravilhoso" e "havia festa de manhã à noite" - veio não só apaixonada, mas também de coração cheio com os "amigos italianos, espanhóis, franceses, sobretudo esta linha mediterrânica do latim", com quem ainda hoje mantém contacto. A maior surpresa foi mesmo "o facto de os alemães serem tão afáveis", mas relembra: "nós podemos sentir-nos em casa em qualquer lugar do mundo e podemos ser de vários sítios".

Pedro ainda tem na memória os italianos "que refilam muito no trânsito" e "a quantidade de vezes que ia sendo atropelado", mas é também por isso que o Cartão Europeu de Seguro de Doença é uma mais valia "e é gratuito!" [risos]. Ao contrário da renda da casa. "A bolsa que eu recebi [400 euros] não deu para um mês de renda de casa que era 450 euros". Mas a hospitalidade saiu-lhe barata: "Os italianos são um povo do sul, somos todos irmãos".

Aos jovens, Inês deixa um conselho: "se estiverem indecisos, vão. Se não quiserem ir, pensem bem e vão na mesma".

"É uma experiência emocional que fez pela vida do Pedro, fez pela minha e fará por uma Europa em que nós nos sintamos pertença um dos outros. Nós europeus precisamos de continuar a criar laços, o Erasmus tem mesmo uma dimensão política e de cidadania que não deve ser esquecida".

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