João Cotter Salvado
Opinião de João Cotter Salvado
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Do campus para o mercado: como as universidades podem potenciar (ainda mais) o empreendedorismo

13 mai, 2024 • João Cotter Salvado • Opinião de João Cotter Salvado


Três ideias para as universidades serem agentes cada vez mais ativos na criação de novas soluções empreendedoras: estreitar a colaboração entre a academia e o ecossistema empreendedor, integrar conhecimento científico na formação em empreendedorismo e investir na ampliação do acesso a competências empreendedoras.

As universidades têm um papel fundamental no fomento do empreendedorismo por várias razões: Promovem uma cultura de curiosidade e aprendizagem contínua, que motiva os estudantes a explorar novas ideias; facilitam a ligação e colaboração entre alunos com vontade de inovar e energia para mudar o mundo; e proporcionam acesso a investigação e conhecimento, facilitando a exposição às mais recentes descobertas e tendências nas mais diversas áreas de estudo.

O mais recente ranking das Universidades Empreendedoras Portuguesas foi publicado no ano passado, pelo segundo ano consecutivo, pela Startup Portugal e ilustra bem o papel que as instituições do ensino superior têm (e podem vir a ter) no ecossistema empreendedor.

Para além das iniciativas de apoio ao empreendedorismo que, felizmente, já se tornaram comuns nas universidades portuguesas (incluindo cursos e unidades curriculares aplicadas, concursos de ideias ou até programas de incubação e aceleração), que mais se pode fazer? Apresento aqui três ideias para “dar o salto” e maximizar o impacto da universidade no empreendedorismo.

Em primeiro lugar, cultivar a proximidade entre comunidade académica e as diferentes partes do ecossistema empreendedor (incluindo, por exemplo, empreendedores, incubadoras ou investidores). Aqui é importante trazer o ecossistema para a escola e levar a escola para o ecossistema, quebrando as barreiras que possam existir e tornar a universidade numa peça importante do ecossistema. Estas ligações ao ecossistema através de atividades e projetos conjuntos possuem um grande potencial para inspirar os alunos, abrir horizontes de ação e possibilitar o acesso a competências complementares às encontradas normalmente dentro da universidade.

Um estudo recente mostra que a proximidade a redes e recursos-chave do ecossistema durante as fases iniciais de desenvolvimento de ideias potenciam depois o efeito de programas mais formais de capacitação, como é o caso de unidades curriculares ou programas universitários de incubação ou aceleração.

Em segundo lugar, trazer a ciência e o conhecimento académico de ponta para o centro da educação e capacitação dos futuros empreendedores. Há, atualmente, muito trabalho científico de qualidade em áreas como a estratégia ou empreendedorismo que podem fortalecer o que se oferece aos alunos: que ferramentas usar para gerar ideias promissoras de negócio? Como ir para o terreno e testar estas ideias da forma mais eficaz? E como comunicar resultados e obter apoio de potenciais parceiros e investidores? Por exemplo, um estudo recente conclui que pequenas modificações na forma como se ensinam as ferramentas e

técnicas tradicionalmente utilizadas para treinar empreendedores têm impactos significativos nos resultados obtidos pelos alunos. Neste caso, ensinando a utilizar estas ferramentas com uma abordagem científica (ou seja, utilizá-las numa lógica de desenvolver hipóteses que podem posteriormente ser testadas) faz com que os empreendedores ajustem a sua ideia ao mercado com mais foco e tenham níveis de performance mais elevadas.

Finalmente, em terceiro lugar, ampliar o interesse pelo empreendedorismo. Mesmo em escolas de gestão e economia, nota-se que apenas uma percentagem reduzida dos alunos escolhem estudar empreendedorismo porque, entre outros motivos, a oferta letiva tradicional acaba por ser pouco adequada ao seu plano curricular. No entanto, as competências empreendedoras são importantes mesmo para quem não quer ser empreendedor: há evidência que as organizações beneficiam em ter elas próprias competências empreendedoras, independentemente do seu tamanho. Aqui, a universidade pode seguir várias práticas para incentivar e alargar o interesse em empreendedorismo.

Por exemplo, adaptar e criar oferta letiva de empreendedorismo aplicado a problemas específicos (por exemplo, empreendedorismo orientado para a resolução de problemas sociais e ambientais), desenvolver oferta não letiva acessível a quem não tem necessariamente interesse letivo nesta área de conhecimento (por exemplo, em formato de módulos curtos ou eventos inspiradores), e, finalmente, integrar educação em empreendedorismo em disciplinas existentes através de competências específicas e projetos aplicados. Estar junto dos alunos, nomeadamente através de associações e clubes de estudantes, é fundamental para perceber como ter sucesso na implementação destas iniciativas.

Em conclusão, ao estreitar a colaboração entre a academia e o ecossistema empreendedor, ao integrar conhecimento científico na formação em empreendedorismo e alargar o acesso a competências empreendedoras, as universidades conseguirão tirar o máximo partido das condições já favoráveis para serem agentes ativos na criação de novas soluções empreendedoras. Investir e inovar no ensino do empreendedorismo nas universidades não é somente uma questão de fomentar negócios, mas sim de construir sociedades mais fortes e resilientes. Assim, as universidades não só respondem às necessidades do presente, mas preparam os líderes que irão enfrentar e solucionar os desafios do futuro.

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